BRRUN @ Pense Moda – Day 1


Cecile Coulot abriu o ciclo de palestras do Pense Moda
Começou ontem em São Paulo o Pense Moda, evento que reúne desde 2007 profissionais nacionais e internacionais das áreas de design, fotografia, styling, direção de arte, beleza, jornalismo de moda, cultura e comportamento. Esta edição tem o MuBE como cenário, sonho antigo de seus idealizadores, para uma série de debates e palestras visando estreitamento do diálogo entre os interessados e atuantes do meio.

A primeira palestra da noite foi de Cecile Coulot, gerente de coleções de acessórios femininos da Lanvin. Cecile falou de maneira apaixonada sobre a marca e de sua admiração por Alber Elbaz. Dissertou brevemente sobre a história da maison e das peculiaridades que a distinguem das outras casas parisienses.


Lanvin S/S 12
A Lanvin, disse Cecile num inglês deliciosamente ritmado pelo sotaque francês, foi Jeanne Lanvin: a primeira mulher a se aventurar no mundo dos costureiros e sua herança já conta 120 anos. Frisou ainda sobre a independência da marca frente à maioria de suas concorrentes que fazem parte de grandes conglomerados.


Lanvin S/S 12
O varejo também foi foco da palestra, desde como a marca enxerga seus clientes e as possibilidades que querem dividir durante o processo de compra, até como cada peça é feita para permitir uma experiência única e exclusiva. Todos os tecidos vem de fabricantes artesanais ao redor da Europa como também as estampas.


Lanvin S/S 12
Quanto a difusão via H&M, Coulot assumiu que num primeiro momento houve uma resistência, mas Elbaz acabou cedendo com a premissa de que os modelos seriam releituras de seus hits e não uma nova coleção. O que prova o vídeo campanha de lançamento onde a brincadeira de peças repetidas – fato comum num mundo de fast fashion –  ganha ares de humor e vira musthave.

Por fim, Coulot concluiu o que a maioria de nós sabemos de cátedra: ela também corre contra o tempo, faz 4 coleções por ano e cada uma delas é feita num prazo de 5 semanas, da concepção a materialização. E anda colhendo respostas positivas, o segmento cresceu 63% em relação ao ano passado.

“Para a Lanvin a identidade, o dna, o espírito e o bom humor é o que merece ser preservado, mantido e renovado. Fazemos por que é divertido”, disse ela finalmente e nós concordamos em gênero, número e grau.

Debate discute a criação da imagem de moda no Brasil

Dando continuidade, a organização do evento reuniu um time de peso para a mesa inaugural de debates. O tema escolhido foi “a criação de uma imagem de moda em filme ou fotografia”, a partir do qual houve o questionamento a respeito da autonomia do fotógrafo em relação à encomenda.  O fotógrafo Bob Wolfenson e o stylist Paulo Martinez foram enfáticos ao discutir a relevância da pesquisa no momento de definir a construção da imagem com o diretor de arte, e a necessidade de uma referência para aquilo que será fotografado.  Flávia Pommianosky, concorda com essa ideia, mas acrescenta que fotografar moda é também lidar com o improviso. Muitas vezes a pesquisa é feita e no momento do ensaio, o cenário, o cabelo e a maquiagem não geram a imagem que se quer passar. Os três concordam que, para melhorar o processo de criação no Brasil, aumentar o investimento em pesquisas é o mais importante.

Sebastian Orth diverge dessa opinião. Para ele, o atraso do Brasil na produção de imagens de moda está justamente nesse movimento de reinterpretação de coisas que já foram feitas. Polêmico, ele defende que brasileiros parem de buscar referencias no passado e comecem a criar coisas novas, nunca antes vistas. Bob, Paulo e Flávia, rebatem seu argumento dizendo que só é possível haver criações inovadoras à partir do momento que há um conhecimento do que já foi feito. Nós acreditamos que ambos estão com a razão, mas é fato a influência da colonização estrangeira em nossa cultura desde os primórdios de nosso processo civilizatório.

Bob Wolfenson não acredita na legitimidade dos filmes de moda. Para ele, o mais importante na criação da imagem é construir uma história. O fotógrafo não deve se preocupar em passar os aspectos da roupa ou acessório, uma vez que a imagem dá conta desse recado. O que deve ser levado em conta no momento do ensaio é a construção da narrativa que tornará a informação por trás do editorial inteligível e essa narrativa de moda, para ele, é fragmentada e não pode ser linear. A partir dos fragmentos o leitor consegue compreender a história.

“Contamos muita mentira na fotografia de moda. Prendemos a saia muito larga com um alfinete, por exemplo. Esses truques não são possíveis no filme. Todo o artesanato da fotografia de moda é pensado para ser fragmentado, inclusive a modelo, que não está preparada para atuar, mas sim para fotografar” afirma Wolfenson em seu argumento limitador, pois nós do BRRUN.COM acreditamos que a fotografia de moda sempre inspirou personas (como não atuar?) e os filmes de moda são nada mais que uma evolução do editorial impresso, se pautam pela não-linearidade e os truques também são adaptáveis, ou na melhor das hipotéses o figurino é feito especialmente para o filme.

Graziela Perez, diretora de arte da revista Mag!, afirma que a estética de moda é efêmera. “Queremos aquilo para aquele momento. É obrigação do fotógrafo entender o que o mercado quer e se educar em relação a isso; estar aberto às mudanças e saber adaptar seu estilo próprio a elas”, endossa. Questionada sobre o estágio no qual se encontra a criação de moda no Brasil, Graziela admite a imaturidade do país no assunto, pois “a busca e a formação da identidade é um processo longo. O mercado é recente no Brasil, temos poucas publicações que tratam do tema. A Mag! diferencia-se das outras revistas porque damos uma liberdade maior de criação para nossos fotógrafos. Não ficamos presos a um padrão de editorial importado da Europa, tampouco nos preocupamos unicamente com a tendência da vez ou o perfil de nosso leitor. Acreditamos no processo criativo por trás do editorial e nessa construção da narrativa fragmentada” .

Tavinho Costa, fotógrafo e cineasta, defende que a tecnologia deve ser usada a favor do fotógrafo, para que se transmita a mensagem de forma mais eficiente. No entanto, o trabalho do fotógrafo deve ser reconhecido no processo criativo, afinal de contas “temos que instigar e provocar quem vê a imagem para que ela vire alguma coisa”, conclui.

Apesar de divergirem em inúmeros pontos, os participantes da mesa inaugural do Pense Moda, concordam com o seguinte: o fotógrafo acumula duas funções, a de fotógrafo e diretor. Talvez o filme, que vem com a divisão de tarefas definidas entre diretor de cena e de fotografia seja mais uma lição a ser aprendida pela moda. Não basta apenas apertar o botão. Há o olhar de quem cria a imagem, o enquadramento correto, a luz e a harmonia alcançada entre os elementos que a compõe.

Trabalho em equipe define, como fazemos no BRRUN.COM.

Hoje (05/10) o Pense Moda continua com “A Nova Força de Consumo da Classe C”, mesa redonda com Celso Loducca, Rony Rodrigues, Humberto de Biase e André Torreta. Num segundo momento sabatina com Alexandre Herchcovitch e mediação de Erika Palomino. E logo após o break a palestra tão esperada de Arianne Phillips, uma das figurinistas mais importantes e reconhecidas da industria do cinema, que já assinou o styling de estrelas do pop como Madonna, Lenny Kravitz e Justin Timberlake.

Texto: Felipe Hickiman e Ligia Cristaldi
Edição: Bruno Capasso e Paulo Raic
Fotos: Ligia Cristaldi © Copyright 2011 – BRRUN.COM