Os Desenhos de Richard Serra

Esta semana fui conferir a exposição do artista americano Richard Serra (1939) no Metropolitan. Conhecido por suas esculturas em grande escala, esta foi sua primeira retrospectiva feita apenas de seus desenhos.

A mostra buscava ressaltar a importância do desenho sobre si mesmo, não apenas sobre sua relação com a escultura dentro da trajetória da carreira do artista.

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Desenhar, no caso de Serra, é algo perceptivo, experimental e conceitual. Não é uma forma de negação ou de desconstrução. Ao contrário, é sobre criar tensões e forçar o espectador a perceber um desenho.

A exploração do desenho como desenho, começou a ser realizada por Richard nos anos 70, usando variados pigmentos e suportes. A exposição começava com a apresentação de desenhos do início desta década, quando o artista utilizava tinta, carvão e lápis litográfico. A partir de então, passa  a utilizar oilbar preto, ou seja, um tipo de giz oleoso, que lembra tinta à óleo.

O preto é a própria extensão do desenho. Sendo uma cor densa e carregada de matéria, é ele próprio o desenho e não somente uma parte que o constitui.

A matéria do desenho é criada através das várias camadas, que resultam em uma superfície rugosa, indispensável para sua compreensão.

A partir dos anos 80, Serra continua a explorar novos efeitos através de diferentes técnicas, aumentando também a dimensão do papel. Ao entrar em uma das salas com estes grandes desenhos, é impossível não relacioná-los ao espaço. A matéria é densa, escura e gigante, como se outros corpos, fora o seu, habitassem aquele lugar e modificassem a sua percepção. Senti que Serra esculpe mesmo quando desenha.

Existindo como corpos independentes, seus desenhos são quase sempre produzidos para compreender o seu trabalho, depois de terminada uma escultura. Deste modo inverte-se a ideia da criação de um desenho como estudo de uma obra escultórica.

O desenho para Serra é uma atividade separada da escultura. Apesar de surgir muitas vezes como estudos, segundo o artista, o desenho é uma forma de ver, sentir e pensar.

 

GIULIA BIANCHI
giuliabianchi@brrun.com

 

Fotos: Giulia Bianchi / ©BRRUN.COM