Warhol e Documentário Britânico

Para aqueles que estão no Rio de Janeiro e Curitiba, respectivamente, a Caixa Cultural de cada cidade reservou duas interessantes mostras. A primeira é ‘Andy Warhol 16mm’ que vai de 24 de maio a 05 de junho para os cariocas e quem estiver passando pela cidade. Já na capital paranaense começou a mostra ‘O Documentário Britânico – Dos Anos 30 ao Free Cinema’ de 24 a 31 de maio. Ou seja, mesmo que já estejam rolando, não dá pra deixar de ir.



Rio – Warhol, que teve uma mostra de trabalhos em vídeo exibida no início do ano, retorna à cidade com uma seleção de filmes em 16mm, num total de 22 produções das mais particulares e ousadas. Por exemplo, uma rara projeção de ‘Chelsea Girls’, filme que possui duas telas com áudio e imagens acontecendo simultaneamente e que será exibido como realmente foi pensado, com dois projetores ao mesmo tempo, num tour de force por parte da organização que inclusive precisou de um manual de projeção indicando o momento exato para a entrada dos sons e de cada rolo. Detalhe que é que o filme possui mais de três horas de duração.

Aliás, a idéia do tempo e de uma dupla contemplação, primeiro por parte da câmera e depois dos espectadores é extremamente forte no cinema de Warhol e principalmente nas obras selecionadas. Talvez o caso mais emblemático seja ‘Empire’, possivelmente o filme mais radical da história do cinema, com seus 485 minutos de duração num impressionante registro estático do Empire State Building, que vai da noite até a manhã seguinte. Ao lado dele há outros ensaios de fixação do ‘objeto’ perante a câmera como ‘Blow Job’, ‘Eat’ e ‘Sleep’. Além deles serão exibidos os célebres ‘Screen Tests’, retratos em movimento que Warhol fazia de seus vários artistas e amigos que passavam pela Factory na época.

Já quem desejar filmes com maior movimentação cênica e narrativa, dentro dos limites de seu cinema, as opções podem ser ‘I, a Man’, ‘Lonesome Cowboys’ e ‘My Hustler’. Eu ainda destacaria ‘Outer And Inner Space’, com a superstar e musa de Andy, Edie Sedgwick que sentada próxima a uma televisão assiste a uma imagem pré-gravada de si mesma enquanto é filmada pela câmera de Warhol num efeito de duplicidade e espelhamento brincalhão e sedutor à moda da personalidade de Edie.

Todas as cópias, que vieram diretamente do Museum of Modern Art (MoMa), terão muito, mas muito mais do que apenas seus 15 minutos de fama.

Curitiba – Mostra inédita no país apresentará uma seleção que contempla a produção britânica de documentários das décadas de 30 a 60. Ao longo de toda a programação serão exibidos 36 filmes de diferentes temas e durações, tendo curtas, médias e longas-metragens. Todos eles foram realizados no período entre guerras e também pós-Segunda Guerra Mundial até ao que chamamos de Free Cinema.

O Free Cinema, considerado por muitos como a Nouvelle Vague Inglesa, teve seu auge criativo nos anos 60, foi um movimento feito a partir de filmes de proposta instigante e olhar dinâmico a acontecimentos cotidianos. Uma característica forte era o enfoque a uma liberdade perante aos temas documentados, deixando que a própria imagem falasse por si, ou seja, deixando que o material impusesse a sua forma e mensagem.

A liberdade presente em seu nome vem também do fato de serem sido realizados fora de um sistema industrial, destacando-se pela atitude presente em sua feitura e condições de realização. Eram diretores, como Lindsay Anderson, que queriam produzir fora das imposições do mercado, do Estado da propaganda bem como da manutenção de um mecanismo voltado às bilheterias.

A maioria dos filmes deliberadamente não possuía narração, fazendo com que assim mais uma vez a apreensão do conteúdo viesse a partir do registro, da montagem e não de uma voz direcionadora. Desejavam com força retratar uma sociologia das pessoas comuns no espaço.

Serviço

‘Andy Warhol 16mm’

A Caixa Cultural do Rio de Janeiro Cinema 2, fica na Av. Almirante Barroso, 25, Centro.

Os ingressos para as sessões custam R$ 2 a inteira e R$1 a meia entrada. Imperdível.

Confira a programação aqui.

‘O Documentário Britânico – Dos Anos 30 ao Free Cinema’

Já a Caixa Cultural de Curitiba fica na Rua Conselheiro Laurindo, 280, Centro. A entrada é franca e os ingressos devem ser retirados na bilheteria da Caixa uma hora antes das exibições.

Programação

Quinta-feira, 26

19h30 – Free Cinema (Parte I)

O Dreamland – dir. Lindsay Anderson (12’)

Mamãe não deixa – dir. Karel Reisz, Tony Richardson (22’)

Juntos – dir. Lorenza Mazzetti (49’)

21h20 – Anos 40 (Parte II)

Terra prometida – dir. Paul Rotha (63)

Que vida! – dir. Michel Law (11’)

Perseguindo o blues – dir. J.D. Chambers, Jack Ellit (6’)

Sexta-feira, 27

19h30 – Free Cinema (Parte II)

Wakefield Express – dir. Lindsay Anderson (30’)

Tempo bom – dir. Claude Goretta e Alain Tanner (17’)

A rua canta – dir. N. Mclsaac, J.T.R. Ritchie (30’)

Todos os dias menos no Natal – dir. Lindsay Anderson (39’)

Sábado, 28

16h00 – Anos 1950

A partir do zero – dir. sem crédito (9’)

Cinco cidades – dir. Terry Bishop (26’)

O invicto – dir. Paul Dickson (34’)

Retrato de família – dir. Humphrey Jennings (23’)

18h30 – Free Cinema (Parte III)

Refugiado – dir. Robert Vas (27’)

Maquinistas – dir. Michael Grigsby (17’)

Nós somos os garotos de Lambeth – dir. Karel Reisz (49’)

Comida à primeira vista – dir. Elizabeth Russel (30’)

21h00

Drifters – dir. John Grierson (45’)

Domingo, 29

16h00 – Além do Free Cinema

Uma batata, duas batatas – dir. Leslie Daiken (21’)

Marcha a Aldermaston – dir. coletiva (33’)

A rua desaparecida – dir. |Robert Vas (19’)

Amanhã é sábado – dir. Michael Grigsby (17’)

Dia de festa – dir. John Irvin (25’)

18h30 – Anos 1950

A partir do zero – dir. sem crédito (9’)

Cinco cidades – dir. Terry Bishop (26’)

O invicto – dir. Paul Dickson (34’)

Retrato de família – dir. Humphrey Jennings (23’)

20h30 – Free Cinema (Parte I)

O Dreamland – dir. Lindsay Anderson (12’)

Mamãe não deixa – dir. Karel Reisz, Tony Richardson (22’)

Juntos – dir. Lorenza Mazzetti (49’)

Segunda-feira, 30

20h30 – Free Cinema (Parte II)

Wakefield Express – dir. Lindsay Anderson (30’)

Tempo bom – dir. Claude Goretta e Alain Tanner (17’)

A rua canta – dir. N. Mclsaac, J.T.R. Ritchie (30’)

Todos os dias menos no Natal – dir. Lindsay Anderson (39’)

Terça-feira, 31

20h30 – Free Cinema (Parte III)

Wakefield Express – dir. Lindsay Anderson (30’)

Tempo bom – dir. Claude Goretta e Alain Tanner (17’)

A rua canta – dir. N. Mclsaac, J.T.R. Ritchie (30’)

Todos os dias menos no Natal – dir. Lindsay Anderson (39’)

By Matheus Marco.
matheusmarco@brrun.com

[Pics: ©advertisement.]