Recentemente li uma entrevista do Billy Corgan comentando o processo de composição das músicas do novo álbum do Smashing Pumpkins, Oceania (2012), faixa por faixa, muito detalhada e interessante. O que mais me chamou a atenção, porém, foi quando mencionou a reação dos fãs ao fato de estarem gravando uma música em específico, My Love is Winter (segue tradução livre): “Nós tocamos a música nos shows e foi ótimo, as pessoas amaram a canção. Quando descobriram que estávamos gravando no estúdio escreveram no meu Twitter: ‘não estraga essa!’.”
Não é difícil entender a falta de crédito pela qual os Pumpkins passaram nestes últimos anos: após uma sequência de álbuns variando do mediano ao medíocre, projetos paralelos sem brilho e uma reformulação quase total nos seus integrantes, as coisas não pareciam nada promissoras para a banda. Desacreditada e sem o hype (se é que essa palavra era usada naquela época) dos dias áureos, o grupo lança o álbum Oceania, seu melhor trabalho desde o clássico Mellon Collie & the Infinite Sadness.
Primeiro disco com os membros Jeff Schroeder (guitarra), Nicole Fiorentino (baixo) e Mike Byrne (bateria), Oceania se trata de um “álbum dentro de um álbum”, parte do ambicioso projeto Teargarden By Kaleidyscope: 44 músicas que a princípio seriam lançadas aos pares em forma de downloads gratuitos e mais tarde compiladas numa série de EP’s. É um álbum muito mais exuberante, leve e inspirado do que o indigesto Zeitgeist (2007), não apenas na sonoridade, como nos temas e ambientações. O álbum por diversas vezes mostra um clima mais positivo e otimista, seja na ensolarada “Panopticon” (“There’s a sun that shines in/ There’s a world that stares out at me”), ou até mesmo na melancólica despedida de “Wildflower” (“Wildflower in the wilderness outside/ Take your chance with love and laughter/ And every word I write”). Corgan parece estar muito mais a vontade com a situação atual da banda (distante dos holofotes e sem as brigas de ego de outrora) e com a sua própria.
O Smashing Pumpkins também retoma uma sonoridade mais pop em boa parte do álbum (que não dava muito as caras desde Adore, disco de 1998), abusando de sintetizadores e teclados complementando as guitarras nervosas de Corgan e Schroeder, seja com a radiofônica “The Celestials”, a belíssima “Pinwheels” ou a quase new wave “One diamond, one heart”. A banda encontra seus melhores momentos, porém, na épica “Oceania” (canção de quase dez minutos, estruturada em três partes, que divide o disco ao meio), na abertura de Quasar (que remete à clássica Cherub Rock) e nas “noventistas” “The Chimera” e “Glissandra”, mais descompromissadas, mas mantendo a característica de usar muitos overdubs nas guitarras harmonizadas.
Enfim, Oceania é um álbum muito bom, bonito, sem singles óbvios e muitas vezes surpreendente. É quase como um daqueles filmes americanos onde o velho soldado/policial/boxeador/etc. desacreditado precisa abandonar a aposentadoria para um último trabalho que só ele pode fazer. Oceania vem pra provar que o Smashing Pumpkins ainda tem alguns truques na manga.
Nota: 8.5/10
GUSTAVO RICHIERI
Fotos: Divulgação