Tango: a arte de conduzir e ser conduzido

Tango: a arte de conduzir e ser conduzido - Catedral, Buenos Aires

 

Sensual e sutil o tango apaixona e formiga os dedos dos pés até mesmo do mais resistente a aderir danças de salão. Exige certo “resistir até não poder mais”, típico das paixões proibidas mais famosas da história, convite envolvente para o entrosamento entre os pares que circulam pelo salão arrastando magicamente os pés, entrelaçando as pernas, encostando rosto com rosto e afastando-os como quem diz “te desejo, mas não posso”.

Espetáculo lindo de ver. Impossível não se apaixonar. Especialmente quando o que se vê são jovens dançarinos amadores, que procuram o tango porque gostam. Muitos são casais que transpiram sentimento enquanto dançam. Todos eles dos mais variados cantos do mundo, com belezas tão diferentes quanto lindas.

Foi essa a rica e primeira experiência que tive com o tango argentino e o lugar em questão trata-se do Catedral. Localizado no centro de Buenos Aires, no número 4004 da Rua Sarmiento, no Bairro de Almagro, o bar funciona, há 13 anos, no que fora, 130 anos atrás, um moinho de trigo. Dez artistas de rua, tangueros, apropriaram-se do local, que há muito havia sido abandonado, e passaram a habitá-lo.

Aos poucos, a partir de uma bricolagem informal, o galpão foi sendo decorado com objetos provenientes dos mais variados locais tão variados quanto.  Quadros, objetos pendurados – como sapatos de tango -, um coração gigante suspenso no teto- feito a partir de estofados velhos-, paredes pintadas… Cada canto do bar traz sua individualidade e todas, em conjunto, traduzem a identidade do Catedral.

A música é comandada, a maior parte do tempo, por um DJ que alterna blocos de tango, momento em que a pista é tomada pelos pares dançantes, e blocos de rock, pop ou eletrônico, para que os tangueros descansem, conversem, comam e bebam.

O Catedral oferece um menu variado de pratos vegetarianos com opções de pizzas, massas e carnes de soja, tudo preparado com alimentos orgânicos cultivados no próprio local.

Federico Prado, dono do Catedral, diz que o bar é frequentado principalmente por jovens extrangeiros que moram em Buenos Aires. Estes são os clientes mais frequentes. Turistas e os próprios portenhos também compõe a clientela do bar e, apesar do público do catedral ser majoritariamente composto por jovens, “o tango é para todas as idades”, conclui Prado. Logo, pessoas mais velhas também encontram espaço e divertem-se no bar.

No Catedral, iniciante também tem vez e as aulas oferecidas pelo bar podem ser a forma mais fácil de inserir-se nesse universo mágico onde o segredo, segundo o professor de tango Carlos Cruz, “consiste em saber conduzir e deixar-se ser conduzido”.

O ápice da noite fica por conta da entrada dos músicos que, após se acomodarem no centro da pista de dança, passam a tocar tangos ao vivo. Os pares, então, pouco a pouco, voltam a integrar a pista e dançam de forma harmônica circulando pelo salão, como se orbitassem a banda.

 

 

LIGIA CRISTALDI
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Foto: Divulgação