Rare Bird



Um belo dia o Costume Institute do Met entrou em contato com esta pequena grande dama para lhe pedir emprestado alguns de seus acessórios para uma exposição. E foi daí em diante que o mundo pode conhecer mais desta deslumbrante ave rara de 86 anos.

Por onde esteve Iris Apfel esse tempo todo? A sensação é de atraso pelo quanto poderíamos ter aprendido com essa senhora de óculos redondos oversize ao longo destes anos. Mas… “antes tarde do que mais tarde!”.

Além dos acessórios Iris sugeriu que deveriam levar algumas roupas para completar o contexto, perguntando o que eles gostariam afinal e recebeu como resposta: “Bem nós não sabemos. O que você tem?”.

E foi assim que foi aberta caixa de pandora com mais entusiasmo já que se estendeu  à armários, gavetas, caixas, coisas em cima dos armários, debaixo da cama e dos móveis, “um turbilhão”, relembra Íris dizendo que até os móveis tiveram que ser empurrados para abrir espaço dada a quantidade de peças que estavam sendo selecionadas e separadas.

A exposição aconteceu em setembro de 2005 e foi até 22 de janeiro de 2006. O sucesso foi tão grande que percorreu diversos museus, o último foi em Salem, no PEM, em fevereiro de 2010.



Iris Apfel virou referencial global sendo indicada pelo WGSN como ícone de estilo e nomeada para a lista The International Best Dressed da Vanity Fair. E não parou por aí,  ainda virou musa da coleção resort 2012 do estilista Jason Wu e foi homenageada por Anna Dello Russo num editorial para a Vogue Italia onde a modelo Tanya Dziahileva encarnou o papel da designer.

O resultado palpável de sua exposição se materializou no livro A Rare Bird of Fashion: The Irreverent Iris Apfel.



Para os desavisados, sim, ela é designer de interiores formada pela Universidade de Wisconsin. “Eu percebi que tinha encontrado minha vocação, design de interiores era para mim”, confessa.

Neta de um alfaiate russo Iris nasceu no Queens e mora com seu marido Carl há 62 anos, num apartamento no Upper East Side tão cheio de referências quanto ela.



Tudo, do guarda roupa à decoração de sua casa é um mix garimpado por todo tipo de lugar ou país em que passa. Seu pintor preferido é Velázquez, e a prova está pendurada em uma de suas paredes, a pintura da infanta Maria Tereza da Espanha, que comprou por ter adorado o enfeite de cabelo que a menina usa.

Sobre dinheiro e compras diz que “antigamente, você poderia ir para a Tunísia e obter uma calça jeans diretamente das pessoas que as estavam costurando para Pierre Cardin. Você poderia realmente encontrar coisas raras em mercados de pulgas, hoje eles desapareceram e os poucos que restaram estão escondidos”. E mais “se você não podia pagar por um couture, você podia ir aos ateliês e comprar suas amostras, ou como chamamos hoje seus pilotos, pois ninguém ligava para arquivos”.



Essa Senhora de cabelos brancos ainda tem muito que dividir com as mulheres jovens de sua época. Não só sobre compras, combinações – que, aliás, ela odeia – ou design.

Iris tem muito a dividir, a ensinar, sobre valores que realmente merecem ser cultivados.

“Eu acho que as mulheres se cobram demais para se manterem jovens”, decreta. “Coco Chanel disse uma vez que o que faz uma mulher parecer velha é justamente a vontade desmedida de parecer jovem. E isso é tão bobo. Por que alguém deveria ter vergonha de ter 84 anos? Por que você tem que dizer que tem 52 anos? Ninguém vai acreditar em você mesmo… As pessoas esticam o rosto, mas as mãos continuam enrugadas. Isso é ridículo. Porque ser tão boba? Não existe nada de errado e acredito que é bom que você tenha tido a oportunidade de envelhecer. É uma benção”.



“A MODA TEM QUE SER UMA EXPERIÊNCIA DIVERTIDA!”

FELIPE HICKIMAN
felipehickiman@brrun.com

Fotos: Divulgação