Red Queen Full Gallop



Full Gallop!, no bom inglês “à todo vapor!” era a resposta de Diana  Vreeland sempre que lhe perguntavam como ela estava, independente das intempéries que acometiam o seu dia. A máxima se tornou tão celebre que em 1996, sete anos após sua morte, batizou um espetáculo de teatro que a homenageava.

Reza a lenda que na primavera de 1936 Carmel Snow, então editora da Harper’s Bazaar, viu uma jovem com vestido de renda branca Chanel, bolero, rosas presas em seus cabelos negros e as maçãs do rosto fortemente marcadas à deslizar pela pista do St. Regis. Imediatmente intuiu que aquela jovem cheia de estilo seria uma ótima colaboradora para a revista.



Carmel Snow e Coco Chanel.


Carmel e Diana.




Foi com a expressão sugestiva e audaciosa do “Porque você não…”  que Diana começou a escrever uma coluna para a Bazaar culminando uma parceria duradora de 26 anos que a metamorfoseou num desses mitos da moda, excêntrica por excelência, instruindo suas pupilas a usarem bijuterias com guizos para que ela sempre soubesse quando estavam por perto.

Ao invés de simplesmente falar sobre tendências, Diana produzia e criava meios para motivar e popularizar certos objetos e ideias, tudo com muita inteligência e humor afiado. Ela reinventou a profissão de editora de moda como uma curadora de costumes que supervisonava o trabalho de seu time de fotógrafos e modelos de perto para imprimir uma marca. “Sei o que elas vão usar, antes de elas usarem. O que vão comer, antes de comerem. E até mesmo para onde vão, antes mesmo do lugar existir.”, afirmava fleumaticamente.

Em 1962 Sam Newhouse comprou a editora Condé Nast e a deu de presente para sua esposa, fã incondicional de Diana, que exigiu imediatamente sua contratação para chefiar a Vogue. Ponto zero em que a revista ganhou status de “Bíblia da Moda” preparando o terreno para Anna Wintour.




Sempre cercada de amizades badaladas que iam de Coco Chanel, Rudolf Nureyev, Jackie Kennedy à Andy Warhol, Diana lançou e imortalizou as modelos Twiggy, Verushka e Lauren Hutton, como também reconheceu belezas “estranhas”  – ou como chamaríamos hoje de “exóticas” –  das eternas Barbra Streisand e Anjelica Huston.

Seu estilo inconfundível e atrevido, sem falar de seu amor pela cor vermelha, serviu de norte para uma geração de mulheres americanas, guiando-as a ter estilo próprio e a abraçar suas singularidades no lugar de escondê-las. Seu credo pessoal era o “Don’t just be your ordinary dull self. Why Don’t You be ingenious and make yourself into something else?”. Diana queria que seus leitores enxergassem muito além do banal e do comum.



Depois dos boatos de ter extrapolado o orçamento da Vogue, Diana foi demitida em 1971 para no ano seguinte se tornar Consultora de Vestuário do Met de NY, onde permaneceu no cargo até 1989. Foi quando se retirou com o mote de que seus olhos haviam se cansado de ver coisas belas. A era Vreeland no museu foi marcada por exposições memoráveis que contaram com “The World of Balenciaga”, “Hollywood Design”, “The Glory of Russian Costume” e “Vanity Fair”.



No fim da vida estava quase sem dinheiro, pois para ela o futuro nunca foi uma preocupação, e seus últimos dias materializaram sua previsão: quase cega, recebia a visita diária do amigo André Leon Talley que carinhosamente lia os jornais inteirando-lhe das fofocas da cidade.



Sua mais recente biografia, escrita por Lisa Immordino Vreeland intitulada “Diana Vreeland: The Eye Has to Travel” tem previsão de chegada às prateleiras em outubro e contará os 50 anos de carreira de Miss. V., incluindo ao todo mais de 350 imagens icônicas e já está disponível para a pré venda na Amazon.


“The energy of imagination, and invention, wich fall into natural rhythm totally one’s own, maintained by innate discipline an a keen sense of pleasure – these are the ingredients of style. And all who have it share one thing: originality.”
(Miss. V.)

FELIPE HICKIMAN
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